sexta-feira, 2 de abril de 2021

Coveiros na pandemia: A realidade de quem simboliza o fim da batalha pela vida

Durante a pandemia, uma categoria tem sido pouco reconhecida. Mas o trabalho é tão importante quanto os daqueles que estão atuando diretamente na saúde das pessoas. 

É o coveiro em seu trabalho que se depara com a realidade dos sepultemos que precisam ser feitos, simbolizando o fim da batalha pela vida. 

Devido à “causa mortis”, quando se trata da covid é preciso enterrar o mais breve possível. São eles que em suas rotinas presenciam o sofrimento de inúmeras pessoas no momento final da despedida. 

Mesmo atuando nos cemitérios de Pombal, esses profissionais encaram a profissão com naturalidade e as dificuldades da rotina chegam às vezes a ser vistas como positivas para eles. 

Os agentes de inumação, ou popularmente coveiros, precisam deixar a emoção de lado para prestar o importante serviço. 

“Sentir a gente sente, mas é preciso continuar o trabalho e ser forte diante da dor das pessoas”, lembrou um profissional que atua em um dos cemitérios da cidade. 

Deviam receber uma maior atenção por parte da população, notadamente neste período difícil para todos,  pelo trabalho desempenhado.

É o coveiro que conduz o ente para a última morada enfrentando o impacto psicológico de lidar com o momento mais delicado da “existência” humana que é a morte.

É preciso falar sobre essa profissão, quebrar essa invisibilidade que assola tal categoria, sem eles teríamos que enterrar os nossos mortos.

Não são apenas aqueles profissionais que sepultam alguém, mas sim pessoas, com sentimentos, angústia, amores, famílias; E sentem a dor de outras famílias que perdem seus entes queridos.

Aqui expressamos a nossa homenagem, nesse momento em que exercem a função  com uma importância ainda maior, através do poema Versos a um coveiro, publicado por Augusto dos Anjos em 1912.

 

 

Numerar sepulturas e carneiros

Reduzir carnes podres a algarismos

- Tal é, sem complicados silogismos,

A aritmética hedionda dos coveiros.

...

Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,

Porque, infinita como os próprios números,

A tua conta não acaba mais!

 

Augusto dos Anjos

 

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